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Artigo

Educação pode retroceder até quatro anos devido à pandemia
12/03/2022 Priscila Germosgeschi

Educação pode retroceder até quatro anos devido à pandemia

Sem aulas presenciais, a aprendizagem sobretudo de crianças e adolescentes em vulnerabilidade social fica prejudicada, aponta estudo
Imagem de uma menina de perfil com os dois braços apoiados na carteira em cima de um caderno e mãos no rosto. Detalhes de outros colegas na sala de aula aparecem em preto e brancoiStock/arte Lunetas
 
 

A pandemia do novo coronavírus afetou profundamente a educação brasileira, que pode retroceder até quatro anos nos níveis de aprendizagem dos alunos. Além da suspensão das aulas presenciais de milhões de crianças e adolescentes há mais de oito meses, um dos períodos mais longos em comparação com os outros países, há o agravante de um acesso desigual ao ensino remoto no Brasil. 

A oferta de conectividade é fator determinante para que os estudantes de famílias mais pobres tenham acesso a videoaulas on-line, disponibilizadas em sites ou aplicativos. Assim, embora a tecnologia reduza os prejuízos do fechamento das escolas, sendo aliada do processo de ensino e aprendizagem durante a pandemia, ela não substitui a escola, o professor e o ensino presencial.

Para avaliar essas questões, pesquisa feita pelo Centro de Aprendizagem em Avaliação e Resultados para o Brasil e a África Lusófona da Fundação Getúlio Vargas, encomendada pela Fundação Lemann, apontou um retrocesso na educação brasileira de até quatro anos por causa da pandemia. O estudo levou em consideração o nível de aprendizado de estudantes nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio, em língua portuguesa e matemática, em um ano típico (dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica, Saeb, de 2015 a 2019), o tempo de interrupção das aulas (estimado em 72% do ano letivo) e o eventual aprendizado com o ensino remoto (explorado nos cenários otimista, intermediário e pessimista).

Veja os resultados a seguir dos efeitos da pandemia na educação:

A primeira conclusão do estudo é que a interrupção das aulas leva a uma redução significativa no aprendizado dos alunos, podendo desacelerar ou mesmo retroceder. Ao simular a perda de aprendizado nesse período, observou-se que os alunos deixaram de aprender mais em matemática do que em língua portuguesa, sendo os alunos do ensino fundamental os mais prejudicados, na maioria dos casos. Esse resultado ocorre de maneira desigual no país, afetando mais fortemente os menos favorecidos.

  • Cenário pessimista
    Os estudantes não teriam aprendido o conteúdo durante o ensino remoto. A perda seria equivalente ao retorno à proficiência brasileira na avaliação de quatro anos atrás (entre 2015 e 2017) em língua portuguesa e de três anos em matemática (2017) no ensino fundamental (5º ao 9º ano). Em relação ao tempo de interrupção das aulas presenciais, ambos os ciclos (tanto alunos dos anos finais do ensino fundamental quanto aqueles do ensino médio) podem ter deixado de aprender o equivalente a 72% do aprendizado de um ano letivo típico, em língua portuguesa e matemática.
  • Cenário intermediário
    Numa estimativa intermediária, em que se considera que os alunos aprendem no ensino não presencial proporcionalmente às horas dedicadas a atividades escolares, ambos os componentes curriculares – português e matemática – teriam uma queda equivalente ao retorno à proficiência brasileira de três anos atrás. Já o percentual em relação ao tempo ficou em 34% (estudantes dos anos finais do ensino fundamental) e 33% (estudantes do ensino médio).
  • Cenário otimista
    Mesmo considerando uma situação em que os alunos tenham aprendido por meio do ensino remoto tanto quanto aprendem no presencial, desde que realizassem as atividades escolares, a educação também pode ter perdido três anos em língua portuguesa. A perda no aprendizado ficaria em 14% e 15%, respectivamente.

Desigualdades educacionais

Além de crianças e adolescentes em vulnerabilidade social serem os mais prejudicados, o estudo também estimou, analisando apenas o cenário intermediário, aumento das desigualdades de gênero, raça/cor e escolaridade da mãe

Os grupos populacionais mais prejudicados, para os anos finais dos ensinos fundamental e médio, em ambos os componentes, são os do sexo masculino, pardos, negros e indígenas, com mães que não finalizaram o ensino fundamental: os meninos aprenderam menos que as meninas, especialmente em matemática. Já os menos prejudicados são, na maioria dos casos, do sexo feminino, que se declararam brancas, com mães com pelo menos ensino médio completo. 

Entre territórios, observou-se que alunos das regiões Norte e Nordeste deixaram de aprender mais que alunos do Sul e Sudeste, em ambas as etapas de ensino.

A desigualdade entre grupos de estudantes, componentes curriculares, ciclos escolares e territórios indica um desafio para as redes no planejamento das aulas presenciais, demandando esforços para mitigar essa perda de aprendizado e garantir o acesso a um ensino remoto de qualidade a todos, indicam os responsáveis pelo estudo.

Avaliação diagnóstica e flexibilização curricular
Para apoiar as redes de ensino de todo o Brasil, foi lançada a Plataforma de Apoio à Aprendizagem, com ferramentas e atividades de verificação de aprendizagem gratuitas para professores e gestores escolares. A partir da aplicação de avaliações diagnósticas para mensurar o nível em que se encontra cada aluno e identificar defasagens, considerando o desigual acesso dos estudantes ao ensino remoto, a plataforma auxilia na construção de planos de aula efetivos (abordagem flexível de conteúdo, focada no que cada estudante precisa para recuperar o aprendizado), ancorados na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e em um conjunto de orientações para que todos os estudantes possam avançar no conteúdo pedagógico. A iniciativa é do Consed e da Undime, por meio da Frente de Avaliação, com apoio do BID, CAEd/UFJF, Fundação Lemann, Fundação Roberto Marinho, Instituto Ayrton Senna, Instituto Reúna e Itaú Social.

 

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