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Artigo

Panóptico
01/10/2023 Blogueirinha Da Pri

O homem moderno surge através de vários mecanismos. Ele não é uma essência, é um projeto levado a cabo pela modernidade. Os processos de subjetivação são vários: a família nuclear, a escola, o exército, o hospital e caso tudo falhe, as prisões. Há um caminho a percorrer, uma trilha da qual não se deve desviar, um plano traçado.

Foucault se debruçou sobre o aparecimento e funcionamento destas instituições e, dentre suas conclusões, percebeu que todas funcionavam através do modelo panóptico, figura arquitetural idealizada por Jeremy Bentham:

"Em 1793 Bentham concebeu seu projeto de Panopticon, que se tornaria a matriz arquitetônica das prisões europeias”

– Foucault, Sociedade Punitiva

Podemos começar com uma pergunta: como vigiar mais e melhor? Ora, na escuridão da masmorra não podemos ver nada, o recluso se esconde. É necessário luz. Quanto mais luz, melhor! O Iluminismo é também aquele que torna visível o estranho, o desprezível, o anormal, o excluído.

"O princípio é conhecido: na periferia uma construção em anel; no centro, uma torre; esta é vazada de largas janelas que se abrem sobre a face interna do anel; a construção periférica é dividida em celas, cada uma atravessando toda a espessura da construção; elas têm duas janelas, uma para o interior, correspondendo às janelas da torre; outra, que dá para o exterior, permite que a luz atravesse a cela de lado a lado”

– Foucault, Vigiar e Punir

A arquitetura é pensada para que a luz passe. Tudo deve ser iluminado, tudo deve poder ser visto! Na sociedade da transparência, nada deve ficar de fora. O panóptico é como um zoológico, aqueles que estão à disposição devem estar numa posição de poder ser observados a qualquer momento.

"Basta então colocar um vigia na torre central, e em cada cela trancar um louco, um doente, um condenado, um operário ou um escolar. Pelo efeito da contraluz, pode-se perceber da torre, recortando-se exatamente sobre a claridade, as pequenas silhuetas cativas nas celas da periferia. Tantas jaulas, tantos pequenos teatros, em que cada ator está sozinho, perfeitamente individualizado e constantemente visível”

– Foucault, Vigiar e Punir

O indivíduo precisa saber que está sendo observado o tempo todo! E mais, precisa saber que está sozinho nesta observação. Tudo será anotado em sua ficha, em seu cadastro, em seu prontuário. A sensação de que está sendo visto precisa prevalecer, mesmo que não esteja efetivamente sob o olhar do vigia.

"O dispositivo panóptico organiza unidades espaciais que permitem ver sem parar e reconhecer imediatamente”

– Foucault, Vigiar e Punir

A dissimetria (genial, não podemos negar) é a quebra do par ver/ser-visto. O sujeito vive sob os holofotes e, ao mesmo tempo, na mais completa ignorância, não sabe se está sendo observado ou não, se tem alguém na torre ou não, se estão anotando ou não, se está sob severa investigação ou se foi esquecido lá.

"Em suma, o princípio da masmorra é invertido; ou antes, de suas três funções — trancar, privar de luz e esconder — só se conserva a primeira e suprimem-se as outras duas. A plena luz e o olhar de um vigia captam melhor que a sombra, que finalmente protegia. A visibilidade é uma armadilha”

– Foucault, Vigiar e Punir

A visibilidade se torna uma arapuca, uma estratégia do poder. Ela é colocada no lugar da privação e do esconder. Assim se observa, se aprende, se controla e mais facilmente se pune. Por sua enorme competência e eficácia, o Panóptico se torna rapidamente o modelo arquitetural da sociedade. Todas as instituições começam lentamente a se parecer com ele.

A grande inovação, como dissemos, é a dissociação entre o par ver/ser-visto. Seus efeitos serão utilizados na vida cotidiana. Ele será usado sempre que houver uma multiplicidade a ser controlada. Cada preso, aluno, trabalhador, paciente, etc., é colocado em uma célula, uma divisória, permanecendo isolado de outros estímulos para ser melhor observado. O poder captura para colocar ao seu dispor.

Desta forma, dirão, os alunos podem estudar melhor, sem se distrair; os trabalhadores não organizam greves, que atrapalham a produção; e os presos não se revoltam. A multidão, lugar de trocas e de afetos, é transformada em uma coleção de múltiplas individualidades, mas separadas por uma fina divisória que não os permite acessar por completo o diferente. Mais poder será, de agora em diante, mais Vigilância, que criará efeitos de mais Disciplina e maior efetividade.

https://razaoinadequada.com/2014/12/03/foucault-panoptico-ou-a-visibilidade-e-uma-armadilha/

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