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Feche os olhos e imagine: como é uma pessoa com autismo? Mesmo que você não conheça ninguém com a condição, consegue defini-la em algumas palavras? Será que você pensou em isolamento, quietude, incomunicabilidade, frieza? Afinal, o autismo tem feições, comportamentos e gestos específicos? Tem um rosto, um trejeito, uma cor própria? O autismo tem só um jeito de ser?
É possível que muito daquilo que a maior parte das pessoas pensa sobre esse transtorno seja pautado por uma série de ideias social e culturalmente construídas que nem sempre condizem com a realidade. A palavra “espectro”, que acompanha a nominação oficial da condição cunhada pela Organização Mundial de Saúde (TEA – Transtorno do Espectro Autista), dá a pista: o autismo se dá de muitas formas, e se manifesta de maneiras muito distintas de um indivíduo para o outro. Por isso, é tão complexo e sensível retratá-lo.
Foi para ajudar a desconstruir estereótipos que só reforçam o preconceito e mostrar que o espectro autista configura todo um universo a ser descoberto, respeitado e incluído na sociedade, que os cineastas Flavio Frederico e Mariana Pamplona realizaram o documentário “Em um mundo interior“, que participou da seleção oficial do Festival É Tudo Verdade deste ano.
Para pontuar a importância de debater o assunto neste Dia Internacional de Conscientização do Autismo – celebrado todo dia 2 de abril, o Lunetas conta sobre o processo de criação do filme, que é o primeiro longa-metragem brasileiro estritamente sobre autismo.
Os realizadores definem o filme como um “mosaico de histórias” conectadas pelo diagnóstico do autismo, tendo como ponto comum a perspectiva da inclusão e uma única certeza: cada sujeito com autismo é diferente do outro. Não por acaso, a trilha sonora da abertura é “O quereres”, de Caetano Veloso: “onde queres descanso, sou desejo“. A questão do “eu queria que meu filho que…” permeia todo o filme e remete diretamente ao chamado “luto do filho idealizado“, comum após o diagnóstico.
A provocação que fica é: por que idealizamos as crianças – típicas ou atípicas -, se cada uma vai desenvolver sua própria subjetividade? Uma reflexão que se estende não só para pais de crianças com deficiências, transtornos ou limitações específicas, mas para a sociedade em geral.
O filme apresenta a história de sete famílias de diferentes classes sociais e regiões do país, que compartilham com o espectador a rotina de Enzo, Julia, Roberto, Igor, Isabela, Mathias e Eric, crianças e adolescentes cujas idades variam entre três e 18 anos.
“A ideia é mostrar como uma pessoa com autismo pode levar uma vida social normal – trabalhar, estudar, se relacionar – mas que também há dificuldades que não devem ser ignoradas”
Ou seja, não se trata de romantizar a condição, e sim de uma proposta de diálogo aprofundado que parte do cotidiano real das famílias.
Com isso, o documentário levanta uma questão ainda maior: como cada família lida com as expectativas e frustrações diante do diagnóstico, do tratamento e dos resultados – ou falta deles?
Para isso, alguns cuidados foram tomados, com sensibilidade. Uma destas escolhas foi escolher o vlogger Marcos Petry – autor do canal Diário de um Autista, para ser consultor durante o pré-lançamento do filme.
Conhecido por desmistificar o padrão de comportamento autista que ainda existe na cabeça de muitas pessoas – como o vídeo “Coisas que todo autista gostaria que você soubesse” -, Marcos contribuiu criando e validando conteúdos de divulgação para as redes sociais e para a imprensa. A proposta é valorizar o lugar de fala da pessoa que vivencia a condição, sem recair em noções preconcebidas.
Outro diferencial do filme é proporcionar o protagonismo do sujeito autista durante o processo de filmagem, que resulta em um retrato ainda mais fiel ao que acontece dentro de cada pessoa que lida com a diferença em uma sociedade tão marcada pelo desejo de normatização. Para isso, os cineastas entregaram câmeras nas mãos dos personagens, incluindo as crianças.
“Não existe no mundo um autista igual ao outro”“O espectro do autismo é muito amplo, ou seja, existem graus muito diferentes do transtorno. Claro que existem algumas características em comum, mas cada autista é um ser humano completamente único.
“As pessoas de um modo geral não sabem o que é o autismo e muito menos como lidar com ele”Flavio Frederico – Eu e Mariana tínhamos acabado de lançar o longa ‘Em busca de Iara’ e estávamos pensando qual seria o nosso próximo documentário. Foi quando a Mariana veio com a ideia de fazer um filme com crianças. Pensei: ‘que ótimo! Até que enfim um filme leve…’. Mas logo ela me falou: ‘na verdade, crianças com algum tipo de dificuldade’. Sempre gostei de fazer filmes que possam de alguma forma contribuir pra um mundo melhor.Então, ela começou a pesquisar possibilidades e se deparou com o autismo. Nos debruçamos sobre textos, livros e filmes, e logo percebemos a riqueza desse tema – e ao mesmo tempo a urgência de se falar sobre ele. No Brasil e no mundo, pesquisas tentam decifrar o autismo ao mesmo tempo em que legislações inclusivas são criadas ou modificadas. Como a ideia inicial era retratar crianças no filme, partimos para a proposta de tentar uma aproximação do universo interior dessas crianças tão especiais.Lunetas – Quais os aspectos mais marcantes e os principais desafios ao longo dessa imersão?
“Uma coisa que me impressionou muito foi descobrir a força que os pais dessas crianças têm”Todos os dias eles acordam e têm uma maratona física e emocional para cumprir. A disposição dessas pessoas e também dos especialistas que fazem as diversas terapias é impressionante. Quando uma criança autista consegue superar uma barreira é a coisa mais linda!Um dos principais desafios foi o de atrapalhar o mínimo possível o cotidiano e a vida daquelas famílias. É claro que a gente sempre atrapalha um pouco, mas tentamos deixar as crianças o mais à vontade possível. Nossa equipe era pequena e bastante silenciosa.Lunetas – Como avaliam a experiência de entregar câmeras às crianças durante o processo do filme?
“A gente tentou fazer uma abordagem que não esconde a dor e as dificuldades das famílias, mas que mostre sempre um contexto de melhora, de alegria, de positividade”Apesar de todas as dificuldades, cada uma destas crianças está evoluindo e melhorando. Estas crianças e estas famílias são muito fortes! Muito mais fortes do que eu imaginei quando comecei o trabalho.Lunetas – Segundo a Organização Mundial de Saúde, no Brasil, cerca de 2 milhões de pessoas apresentam algum grau do transtorno e ele segue considerado uma das mais enigmáticas desordens neurológicas. Diante desse cenário, qual a contribuição e o legado de “Em um mundo interior”?
“Quanto mais aprendermos a incluir o diferente, mais justa e democrática a nossa sociedade vai se tornar”
Fonte:https://lunetas.com.br/documentario-brasileiro-autismo/