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Artigo

Conheça Darcy Ribeiro
23/05/2020 Priscila Germosgeschi

Darcy Ribeiro, antropólogo, educador e romancista, nasceu em Montes Claros (MG), em 26 de outubro de 1922, e faleceu em Brasília, DF, em 17 de fevereiro de 1997. Eleito em 8 de outubro de 1992 para a Cadeira nº 11, sucedendo a Deolindo Couto, foi recebido em 15 de abril de 1993, pelo acadêmico Candido Mendes de Almeida.

Diplomou-se em Ciências Sociais pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo (1946), com especialização em Antropologia. Etnólogo do Serviço de Proteção aos Índios, dedicou os primeiros anos de vida profissional (1947-56) ao estudo dos índios de várias tribos do país. Fundou o Museu do Índio, que dirigiu até 1947, e colaborou na criação do Parque Indígena do Xingu. Escreveu uma vasta obra etnográfica e de defesa da causa indígena. Elaborou para a UNESCO um estudo do impacto da civilização sobre os grupos indígenas brasileiros no século XX e colaborou com a Organização Internacional do Trabalho na preparação de um manual sobre os povos aborígenes de todo o mundo. Organizou e dirigiu o primeiro curso de pós-graduação em Antropologia, e foi professor de Etnologia da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil (1955-56).

Diretor de Estudos Sociais do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais do MEC (1957-61); presidente da Associação Brasileira de Antropologia. Participou com Anísio Teixeira, da defesa da escola pública por ocasião da discussão de Lei de Diretrizes e Bases da Educação; criou a Universidade de Brasília, de que foi o primeiro reitor; foi <inistro da Educação e chefe da Casa Civil do Governo João Goulart. Com o golpe militar de 64, teve os direitos políticos cassados e se exilou.

Viveu em vários países da América Latina, conduzindo programas de reforma universitária, com base nas idéias que defendeu em A Universidade necessária. Professor de Antropologia da Universidade Oriental do Uruguai; foi assessor do presidente Salvador Allende, no Chile, e de Velasco Alvarado, no Peru. Escreveu nesse período os cinco volumes dos estudos de Antropologia da Civilização (O processo civilizatório, As Américas e a civilização, O dilema da América Latina, Os brasileiros - 1. Teoria do Brasil e Os índios e a civilização), nos quais propõe uma teoria explicativa das causas do desenvolvimento desigual dos povos americanos.

Ainda no exílio, escreveu dois romances: Maíra e O mulo, aos quais acrescentou, mais tarde, Utopia selvagem e Migo. Publicou Aos trancos e barrancos, que é um balanço crítico da história brasileira de 1900 a 1980. Publicou também a coletânea Ensaios Insólitos e um balanço da sua vida intelectual: Testemunho. Editou, juntamente com Berta G. Ribeiro, a Suma etnológica brasileira. Publicou, pela Biblioteca Ayacucho, em espanhol, e pela Editora Vozes, em português, A fundação do Brasil, um compêndio de textos históricos dos séculos XVI e XVII, comentados por Carlos Moreira e precedidos de longo ensaio analítico sobre os primórdios do Brasil.

Em 1976, retornou ao Brasil, e foi anistiado em 1980. Voltou a dedicar-se à educação e à política. Participando do PDT com Leonel Brizola, foi eleito vice-governador do Estado do Rio de Janeiro (1982). Foi cumulativamente secretário de Estado da Cultura e coordenador do Programa Especial de Educação, com o encargo de implantar 500 CIEPs no Estado do Rio de Janeiro. Criou também a Biblioteca Pública Estadual, a Casa França-Brasil, a Casa Laura Alvim e o Sambódromo, em que colocou 200 salas de aula para fazê-lo funcionar também como uma enorme escola primária.

Em 1990, foi eleito senador da República, função que exerceu defendendo vários projetos, entre eles uma lei dos transplantes que, invertendo as regras vigentes, torna possível usar os órgãos dos mortos para salvar os vivos. Publicou, pelo Senado Federal, a revista Carta, onde os principais problemas do Brasil e do mundo são analisados e discutidos.

Entre suas atividades conta-se haver contribuído para o tombamento de 98 quilômetros de belíssimas praias e encostas, além de mais de mil casas do Rio antigo. Colaborou na criação do Memorial da América Latina, edificado em São Paulo com projeto do arquiteto Oscar Niemeyer. E mereceu títulos de Doutor Honoris Causa da Sorbonne, da Universidade de Copenhague, da Universidade do Uruguai, da Universidade da Venezuela e da Universidade de Brasília (1995).

Entre 1992 e 1994, ocupou-se de completar a rede dos CIEPs; de criar um novo padrão de ensino médio, através dos Ginásios Públicos; e de implantar e consolidar a nova Universidade Estadual do Norte Fluminense, com a ambição de ser uma Universidade do Terceiro Milênio.

Em 1995, lançou seu mais recente livro, "O povo brasileiro", que encerra a coleção de seus Estudos de Antropologia da Civilização, além de uma compilação de seus discursos e ensaios intitulada O Brasil como problema. Lançou, ainda, um livro para adolescentes, Noções das coisas, com ilustrações de Ziraldo, considerado, em 1996, como altamente recomendável pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil.

Em 1996, entregou à Editora Companhia das Letras seus Diários índios, em que reproduziu anotações que fez durante dois anos de convívio e de estudo dos índios Urubu-Kaapor, da Amazônia. Seu primeiro romance, Maíra, recebeu uma edição comemorativa de seus 20 anos, incluindo resenhas e críticas de Antonio Callado, Alfredo Bosi, Antonio Houaiss, Maria Luíza Ramos e de outros especialistas em literatura e antropologia. Ainda nesse ano, recebeu o Prêmio Interamericano de Educação Andrés Bello, concedido pela OEA.

Fonte: 

http://www.academia.org.br/academicos/darcy-ribeiro/biografia

 

Darcy Ribeiro - Vida e obra

 

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=iPm2-EpatVo&feature=youtu.be

Roda Viva | Darcy Ribeiro | 1991

 

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=gS6No7WBJFg

 

Darcy Ribeiro – Documentário “O Povo Brasileiro”: Capítulos de 1 a 10

 13 de junho de 2014  Sem categoria Combate Racismo Ambiental

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Tania Pacheco – Combate ao Racismo Ambiental

A partir do dia 2 de outubro de 2012 postamos, em dez capítulos em dias sucessivos, o documentário “O Povo Brasileiro”, dirigido por Isa Grinspum Ferraz e produzido pela produção da Fundação Darcy Ribeiro, TV Cultura e GNT, a partir da obra de Darcy Ribeiro O Povo Brasileiro: a Formação e o Sentido do Brasil, de 1995. Na ocasião relembrávamos inclusive um ótimo artigo de Arlindenor Pedro a respeito, que havíamos do em fevereiro de 2012, com o título A obra em que Darcy Ribeiro desafia o Brasil. Hoje, uma pergunta de Ney Didãn indagando o que havia acontecido, pois não encontrava mais a série no blog, fez com que descobríssemos que os links originais estavam todos substituídos por outros vídeos, sendo que alguns não levavam a lugar algum.

Depois de algum tempo teimando em buscar no canal original do Youtube, descobri afinal uma nova postagem em outro, cujo nome homenageia João Cláudio e Maria do Espírito Santo. Depois de corrigir os dez links, para quem for buscar a divulgação original, decidi que valia socializá-los novamente hoje, desta vez juntando os dez vídeos de 30 minutos mas mantendo os comentários que havia feito sobre cada um deles, em outubro de 2012. Quem desejar poderá assisti-los sem eles, diretamente no Youtube. E que quiser poderá vê-los aqui mesmo no blog, interrompendo eventualmente a exibição, para voltar a ela em outro momento.

Este primeiro vídeo da série – “Matriz Tupi” – é totalmente dedicado aos povos indígenas que habitavam o Brasil antes da invasão europeia. Tem cenas históricas, filmadas em preto e branco durante meses de permanência de Darcy entre os Kayapó, em 1950, e depoimentos de Azis Ab’Saber e Washington Novaes. Toda a série é comentada por Darcy e narrada por Chico Buarque.

Capítulo 2 – “Matriz Lusa”

A maioria de nós cresceu ouvindo “piadas de português”, normalmente mostrados como pouco inteligentes e incultos. Quantas vezes não ouvimos, inclusive, comentários de pessoas tidas como cultas, até mesmo professores, lamentando termos sido “descobertos” por eles, e não por outros europeus, “de origem mais culta e refinada”! Será que já paramos para pensar quanto de preconceito e racismo (bem semelhante ao que combatemos em relação aos Nordestinos, entre nós) há nisso tudo? E – como nos mostra esta “Matriz Lusa” – quanto de ignorância!?

Neste segundo capítulo de O Povo Brasileiro, a importância maior é exatamente a descoberta que podemos fazer de Portugal, com seu justo valor e medida. Com sua cultura muito mais moura e judaica que latina, mas acima de tudo ela própria miscigenada, como Darcy nos mostra, e com sua capacidade de, encurralados entre os castelhanos e o oceano, conseguirem transformar isso num desafio para desbravar o mundo.

Aí vai, pois pois, “Matriz Lusa”, com narração de Matheus Nachtergaele e Chico Buarque; depoimentos de intelectuais portugueses como Agostinho da Silva, de Judith Cortesão e Roberto Pinho; e, ainda, a  participação de Tom Zé e Gilberto Gil, declamando e cantando Camões e Fernando Pessoa. Uma excelente chance, repito, de não só aprendermos, como de descobrirmos que racismo e preconceito podem ter facetas inesperadas.

Capítulo 3 – “Matriz Afro”

A África é o cenário da maior parte deste capítulo 3 de “O Povo Brasileiro”. O documentário nos mostra como era a vida, lá, dos primeiros povos a serem trazidos para o Brasil, provenientes de Angola e do Congo, com suas culturas, sua ligação com o territórios, seus cultos ancestrais, comentados por Carlos Serrano. O século XVIII abrirá uma nova rota, agora a partir do Golfo de Benin. É ela que traz para Salvador, Recife e São Luís do Maranhão, os Nagô, com seus Orixás, e os Jeje, com seus Voduns. Em número menor mas com uma peculiaridade extremamente importante, virão também os Haussá, formados e alfabetizados na cultura árabe e adeptos do islamismo. A eles deveremos a importante Revolta dos Malês, como eram aqui conhecidos.

Já no Brasil, Mãe Filhinha e Mãe Estela falam sobre a herança da África em termos de religiosidade. Gilberto Gil participa cantando e lendo poemas africanos, e François Neyt, da Universidade Louvain-la-Neuve, Bélgica, comenta o lado artístico desses povos da África, ao mesmo tempo em que é mostrada uma variedade de objetos, esculturas, fotos e pinturas que justificam e comprovam a fala final de Chico Buarque: “o negro vem a ser o componente mais criativo da cultura brasileira”.

Capítulo 4 – “Encontros e Desencontros”

No capítulo 4 de “O Povo Brasileiro”, as três matrizes se encontram, no que Darcy chama de uma cultura de retalhos, sementeira cultural de gentes, fusão genética e espiritual “que nos plasmou como povo mestiço, herdeiros de todas as taras e talentos da humanidade” .

No primeiro ato, portugueses, índios e índias. Para os homens, o trabalho, o aprendizado do primeiro desmatamento, na troca de pau brasil por espelhos e missangas. Para as mulheres, o sexo e a produção de crianças condenadas ao que Darcy chama de “ninguendade”. Nem índios, nem portugueses, entregues à catequese que mistura crianças de diferentes povos, de diferentes línguas, forçando-os ao uso do português e à aculturação, para se submeterem. Genocídio, etnocídio e ainda uma verdadeira guerra biológica, que dizima, mata.

No segundo ato, o escambo se transforma em escravidão. E agora já não será mais Caramuru com suas 30 mulheres, mas o estupro claro e impiedoso, produzindo novas forças de trabalho e novas meninas a serem violentadas. No trecho de “Benguelê, do Grupo Corpo, o movimento repetitivo e cansado, atravessando o palco, expressa melhor que nada a violência da submissão pelo cansaço.

 

Capítulo 5 – “Brasil Crioulo”

“Brasil Crioulo” é dos mais belos capítulos, até o momento. E rico: de informações, de participações, de críticas.  Fala dos 12 milhões de escravos trazidos da África, dos quais metade morreu, e dos seis milhões restantes. que fizeram a fortuna da aristocracia do açúcar, a riqueza (em todos os sentidos) do Brasil colonial, a beleza da cultura que, como ele diz, foi tão forte que conseguiu impor valores num processo de mestiçagem.

Clementina não só nos dá sua receita de feijão, como canta, assim como Nelson Sargento e Cartola. Mãe Estela, Mãe Filhinha, o Babalaô Agenor Miranda da Rocha e Roberto Pinho dão seus depoimentos. Trechos de filmes, fotos e tradições entremeiam exemplos de uma cultura que se transformou e tomou conta dos mais diversos Brasis.

Ao final, na voz de Chico Buarque, uma análise dura e até polêmica:

“Nenhum povo que passasse por tudo isso como sua rotina de vida através de séculos sairia dela sem ficar marcado indelevelmente. Todos nós, brasileiros, somos carne daqueles pretos e índios supliciados. Todos nós, brasileiros, somos por igual a mão perversa que os supliciou. A doçura mais terna e a crueldade mais atroz aqui se conjugaram para fazer de nós a gente sentida e sofrida que somos. E a gente insensível e brutal que também somos”.

Contrastando, a resposta tranquila de Mãe Estela: tudo isso “foi a forma de fazer os Orixás brilharem no novo mundo”!

Capítulo 6 – “Brasil Sertanejo”

“O sertanejo é, antes de tudo, um forte”. A frase de Euclides da Cunha poderia bem ser a abertura deste capítulo 6, que no entanto é também muito bem iniciado por Guimarães Rosa. Rosa que permeará, junto com Roger Bastide, Josué de Castro e falas ao vivo de Paulo Vanzolini, Antônio Risério, Hermano Vianna e Ariano Suassuna, esta belíssima visão do Nordeste. Ou dos Nordestes: da cana, do gado, dos cangaceiros se opondo à violência dos coronéis, do sebastianismo, da riqueza das culturas, da terra rachada, dos animais mortos, da alegria do povo.

Trechos de filmes diversos – de Vidas Secas a Deus e o Diabo na Terra do Sol – entremeiam imagens raras, fotos, filmagens em diferentes estados, cantos como os de Luiz Gonzaga e sua sanfona, os inevitáveis e coloridos forrós. E, pairando em meio a tudo isso, as gentes de um Brasil que na verdade é forte, por mais que tentem domá-lo, vendê-lo, destruí-lo. Vale ver!

Capítulo 7 – “Brasil Caipira”

“Brasil Caipira” começa com uma breve citação de Oswald de Andrade, e é claro que seu comentarista principal só poderia ser uma pessoa: Antônio Cândido. Além de Darcy Ribeiro, obviamente, de Roberto Pinho e de trechos de Sérgio Buarque de Holanda, é ele que nos fala da mistura entre portugueses e índios inicial; dos bandeirantes abrindo caminho para o interior, as gerais e a febre do ouro; da posterior mistura com a matriz afro, acrescentando a Congada, o Moçambique e o Batuque a uma cultura já rica, mostrada em trechos de filmes e fotos de época.

Se o ouro termina, quem fica ou vai para as cidades vira comerciante; quem permanece na zona rural é o caipira, mantendo inclusive muito da linguagem erudita do século XVII, como exemplifica Cândido com o vocábulo “pregunta”. Mas chegarão os anos 1950, com o “progresso” determinando o consumo. As feiras serão substituídas pelos supermercados; o artesanato, pelas fábricas. Os habitantes da área rural começarão a viver o processo de expulsão para as grandes cidades, para a degradação e a marginalização das periferias. Ao caipira, em particular, restará ainda ser apropriado e folclorizado pelos meios de comunicação de massa.

Capítulo 8 – “Brasil Sulino”

O “Brasil Sulino” se inicia com o encontro dos jesuítas com os povos indígenas, na busca da “Terra sem Males”, que acabaria se transformando nas Missões. A crítica de Judith Cortesão é dura e correta: para juntar a conquista espiritual à territorial, constrói-se uma das mais violentas estratégias de lavagem cerebral, desestruturando totalmente a cultura e as tradições indígenas, a ponto de torná-los incapazes até mesmo de se defenderem. Desses índios desaculturados, do gado espanhol que prolifera pelos pampas, dos brancos pobres que irão “tocá-lo” sairá o que hoje seria um peão: o gaúcho, sem fronteiras, caminhando para onde o gado o leva.

Novas levas de migrantes chegarão com novas culturas: os açorianos; os portugueses do Norte, que trarão para o Sul do Brasil a tradição dos “faxinais”, de origem Celta. Pouco a pouco, na medida em que caminham desbravando novos pastos, os gaúchos serão substituídos pelos negros. Finalmente, será a vez dos italianos, alemães e poloneses, muitos até hoje arredios à tradição de miscigenação que demarca a história do País. É o que Darcy chama, jocosamente, de “a gringalhada que caiu lá como uma onda”. Em meio a tudo isso, Lupicínio Rodrigues e a gravação feita por Marcus Pereira, na Coleção da Região Sul, do “Boi Barroso” tocado pelo velho Mondadori.

Capítulo 9 – “Brasil Caboclo”

Nada mais atual do que ver este “Brasil Caboclo”, e nada mais revoltante do que pensar que aquela Amazônia que Darcy em 1995 chamava de “Jardim da Terra” e que aquelas imagens de 2005 (sem contar as anteriores, algumas em preto e branco) cada vez mais estão sendo destruídas, rasgadas e estupradas, em nome do “desenvolvimento”. De um maldito “desenvolvimento” que na verdade se iniciou durante a ditadura militar, quando a Amazônia começou a ser cortada por estradas e loteada para grupos internacionais, expulsando povos indígenas e comunidades tradicionais.

Os depoimentos de Azis Ab’Saber, Márcio de Souza e Paulo Vanzolini nos contam como os diversos povos indígenas iniciais foram sumariamente misturados pelos jesuítas  obrigados, lá também, a adotar o Tupi com língua geral; como os poucos brancos e negros a eles se misturariam; como esse mosaico de flora, fauna e mitos receberia depois os cearenses, que seriam totalmente assimilados, acabando de formar assim os caboclos.  Amazônia dos totais extremos: até 1880, um “país” onde a língua falada era o Tupi; em seguida, a explosão da borracha e a formação de uma elite que era mais europeia que brasileira; depois, a falência, o abandono dos palácios, a miséria, a falta de luz elétrica até 1955 nas outrora grandes capitais. Amazônia onde as imagens mostram caboclas produzindo placas de computadores, enquanto índias fabricam tecidos no tear.

Das mortes, fora o genocídio indígena, a única mencionada é a de Chico Mendes. Iza Grispum também estava longe de adivinhar, em 2005, quantas e quantos a ele se juntariam e continuam ainda a “ser juntados”, nas mortes encomendadas  por madeireiros, garimpeiros, fazendeiros, mineiros, seus asseclas e patrões, enquanto o capital estende cada vez mais seus tentáculos. Inclusive José Cláudio e Maria, homenageados no nome do canal de onde estamos linkando estes vídeos.

Afinal, a Amazônia supostamente abrigava o Eldorado! Hoje ela é acima de tudo um campo de luta!

Capítulo 10

Este último capítulo de “O Povo Brasileiro” é, antes de mais nada. um grande mosaico: do preto e branco ao colorido das imagens; do passado e do presente (de 2005, é bom sempre lembrarmos) revivido; das revisões críticas finais dos principais comentaristas da série – Judith Cortesão, Eduardo Gianetti e Roberto Pinho, entre outros. E Darcy e eles nos lembram que o projeto de Portugal foi “subvertido pelos Trópicos, pelos ameríndios e pelos africanos”, num processo em que misturamos até mesmo deuses.

Embora sem mencioná-lo, caberá a Chico Buarque ser o porta-voz de Darcy retomando o conceito de cordialidade enunciado por seu pai, Sérgio Buarque, e em geral alvo de uma interpretação equivocada por parte de “intelectuais” que nunca o leram. E Chico/Darcy o faz exatamente para lembrar que a história do Brasil foi dilacerada por conflitos e entrechoques – da Guerra dos Cabanos, na qual 100 mil caboclos morreram, a Palmares, Canudos, sem esquecer as Missões -, muitos dos quais continuam ainda latentes.

Ao final do capítulo, fica a reafirmação de que a invenção do Brasil prossegue – genética, técnica e simbólica. Eduardo Gianetti aponta, como exemplo de um País que não deu certo, as desigualdades sociais. A fala final de Darcy, entretanto, é mais otimista, lançando a tod@s nós o desafio de construir o Brasil que nós queremos!

Clique no link  da fonte abaixo para assistir os vídeos dos capítulos no site: 

https://acervo.racismoambiental.net.br/2014/06/13/darcy-ribeiro-documentario-o-povo-brasileiro-capitulos-de-1-a-10/

 

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