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Artigo

Como Filme Retrata O Impacto Da ‘Uberização’ Sobre Uma Família
03/03/2020 Priscila Germosgeschi

Como este filme retrata o impacto da ‘uberização’ sobre uma família

Juliana Domingos de Lima26 de fev de 2020(atualizado 27/02/2020 às 14h28)

“Você não estava aqui”, novo longa do cineasta britânico Ken Loach fala sobre a precarização das relações de trabalho e suas consequências

FOTO: DIVULGAÇÃO

Pai abraça filha, ambos estão sentados em um sofá

 OS ATORES KRIS HITCHEN E KATIE PROCTOR EM CENA DE 'VOCÊ NÃO ESTAVA AQUI'

O diálogo que introduz o espectador a “Você não estava aqui”, novo filme do cineasta britânico Ken Loach, contém frases que já se tornaram praxe das novas relações de trabalho mediadas por plataformas digitais.

“Prefiro ser meu próprio chefe”, diz o trabalhador. “Você não trabalha para nós, trabalha conosco”, afirma o representante da empresa de entregas. “Você não dirige para nós – presta serviços”.

Ao longo do filme, Ricky Turner (Kris Hitchen), que passa a trabalhar como entregador para uma empresa que conecta clientes e motoristas por meio da tecnologia, se vê em uma rotina de trabalho cada vez mais extenuante, que o priva do lazer, do descanso e do convívio com a família. Sua esposa, Abby Turner, também se desdobra como cuidadora de idosos paga por visita – como ele, não tem ganhos fixos. Eles vivem em uma casa alugada e têm dois filhos, Liza Jane, a mais nova, e o adolescente Sebastian.

As tensões e dificuldades da família começam a escalar à medida em que o filho adolescente se rebela e o excesso de trabalho dos pais se torna um obstáculo a controlar a situação. No fim das contas, não há nenhuma flexibilidade ou tolerância que permita lidar com problemas pessoais ou mesmo adoecer sem ser penalizado. O filme do mesmo diretor de “Eu, Daniel Blake” (2016) estreia nas salas de cinema brasileiras na quinta-feira (27).

A uberização no filme e na realidade

Os diálogos entre Abby e Ricky revelam que a situação financeira da família se tornou mais complicada a partir da crise financeira de 2008, que penalizou a população do Reino Unido e de vários países no mundo com altas taxas de desemprego. Na época, a família estava em vias de adquirir uma casa própria, mas desde então passou a lutar para se manter e quitar suas dívidas.

No novo regime de trabalho de Ricky não há contratos, metas, salário ou (em tese) horário a cumprir. O prestador de serviço, porém, arca com o aluguel do veículo que é sua ferramenta de trabalho e com eventuais danos ocorridos ao equipamento eletrônico fornecido pela empresa, que controla todos os seus passos. É sua responsabilidade dar conta das entregas, sem ter sequer direito a uma pausa para urinar.

Esta é uma das cenas marcantes do filme – em seu primeiro dia de trabalho, um colega dá a Ricky uma garrafa plástica e diz: “você vai precisar disto”. “Para quê?”, ele pergunta. “Para mijar”, o outro responde. Ele julga ser uma brincadeira mas, eventualmente, recorre ao recipiente em meio à sequência interminável de entregas que precisa realizar.

Chamada de “uberização”, em uma alusão à empresa de transporte individual Uber, a situação precária do personagem é comum a profissionais no mundo inteiro que arcam com riscos e custos em ofícios que não asseguram direitos trabalhistas e em geral não configuram vínculo empregatício.

No Reino Unido, 4,7 milhões de trabalhadores estão na “gig economy”, termo em inglês para este mercado de serviços realizados por profissionais autônomos e mediados por plataformas digitais. O dado é de um estudo realizado pela federação britânica de sindicatos Trades Union Congress e pela Universidade de Hertfordshire, divulgado em 2019.

Ainda segundo a pesquisa, de 2016 a 2019, o número de adultos economicamente ativos que haviam trabalhado para uma plataforma online pelo menos uma vez na semana mais que dobrou, de 4,7% (2,3 milhões de trabalhadores) para 9,6% (4,7 milhões).

A perspectiva do diretor

Se em “Eu, Daniel Blake” – que conquistou a Palma de Ouro em 2016 – Ken Loach tratava da precarização de serviços públicos e do enfrentamento de um cidadão comum a um sistema desumano e burocrático, “Você não estava aqui” pode ser visto como o retrato de um momento posterior, ainda mais desesperançoso, no qual só há a exploração e os esforços da classe trabalhadora para sobreviver como pode.

Assim como o longa anterior e outros dos filmes de Loach, “Você não estava aqui” foi escrito em parceria com o roteirista Paul Laverty. A colaboração entre ambos já dura mais de duas décadas. A escrita é precedida de uma extensa pesquisa, que embasa a dramatização da experiência dos personagens na tela com fatos e vivências de pessoas reais.

Fui atingido no plexo solar por esse filme, [fiquei] destruído pela simples honestidade e integridade das atuações”, escreveu o crítico de cinema do jornal The Guardian, Peter Bradshaw. Ele define “Você não estava aqui” como enfurecido, sem ironia e sem adornos.

A despeito da sensação de impotência provocada por seu novo filme, Ken Loach se declarou otimista quando o exibiu no Festival de Cinema de San Sebastián, na Espanha, em setembro de 2019. Segundo o jornal El País, Loach afirmou acreditar no futuro da esquerda e na força do povo. “Os povos sempre resistirão. Sempre haverá alguém que lute”, disse

Fonte: 

https://www.nexojornal.com.br/expresso/2020/02/26/Como-este-filme-retrata-o-impacto-da-%E2%80%98uberiza%C3%A7%C3%A3o%E2%80%99-sobre-uma-fam%C3%ADlia?utm_medium=Social&utm_campaign=Echobox&utm_source=Twitter&fbclid=IwAR0fFT4xyl7rwaZjEyXwlYr2m4k6D8JVpJkfe9y5_R_Hhj5eWCrPJ_jZKdg#Echobox=1582917616

 

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