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Artigo

Banalização das doenças mentais dificulta diagnóstico e tratamento
22/04/2022 Priscila Germosgeschi

Banalização das doenças mentais dificulta diagnóstico e tratamento

Diagnosticar a si mesmo e aos outros é a principal forma de banalizar os sofrimentos causados pelos transtornos mentais, diz a psicóloga Valéria Barbieri

 

“A banalização dos transtornos mentais é uma forma de apropriação pela população do conhecimento produzido a respeito deles” – Arte de Beatriz Abdalla/Jornal da USP sobre foto de Marcos Santos/USP Imagens
 
 

Tratar como comum, trivial, as experiências vividas por quem sofre com doenças mentais é uma forma de banalização desses transtornos. Um outro exemplo é ouvir uma pessoa transitoriamente triste dizer que “está com depressão”. E estas situações contribuem para a desinformação e preconceito dos transtornos mentais, alerta a professora do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, Valéria Barbieri.

“A banalização dos transtornos mentais é uma forma de apropriação pela população do conhecimento produzido a respeito deles”, explica a professora. Ao mesmo tempo que o acesso à informação sobre o tema é positivo, corre-se o “risco de esvaziar o significado do diagnóstico dos transtornos”, avalia Valéria sobre o lado negativo de tornar banal o  conhecimento.

Aspecto social e diagnóstico 

Para a psicóloga, outro fator relevante para analisar na banalização dos transtornos mentais pela sociedade é a exigência de que a pessoa esteja sempre em sua “melhor forma”. Este fato, segundo Valéria, transforma oscilações emocionais naturais, como a angústia e a ansiedade, em problemas que precisam ser erradicados. Muito ao contrário, esclarece, esses sentimentos só constituem transtornos mentais quando se tornam incapacitantes para a pessoa durante um longo período de tempo.

Para entender a banalização, ao contrário da pessoa saudável que se diz erroneamente deprimida por um sofrimento circunstancial, que vai desaparecer com o tempo, a professora cita outra pessoa, esta sim diagnosticada com transtorno depressivo e com sintomas mais graves e duradouros. Nesse caso, a pessoa saudável é incapaz de compreender a intensidade e permanência do sofrimento do outro, “já que a depressão que ela diz ter experimentado não foi assim”. A consequência da banalização dos transtornos mentais, nesses casos, é o afastamento, já que “a pessoa com transtorno perde cada vez mais esperança de ser compreendida e fica isolada”.

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A principal forma de banalização das doenças psicológicas, no entanto, é a atribuição de diagnóstico a si mesmo e aos outros, afirma a professora. O problema é que, na maioria das vezes, o indivíduo em sofrimento não consegue acessar informações sobre si mesmo. Segundo Valéria, estas são informações inconscientes que somente são obtidas através de entrevistas profundas e testes psicológicos sofisticados, realizados por profissionais com formação especial e com experiência. “Saúde mental, se considerar apenas uma característica ou um sintoma não quer dizer praticamente nada em termos da pessoa ter uma determinada doença ou um transtorno”, afirma a psicóloga.

Enquanto o menosprezo social atua sobre as doenças mentais, o sofrimento cresce. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a principal causa de incapacidade no mundo é a depressão, com uma estimativa de mais de 300 milhões de doentes. Além disso, cerca de 60 milhões de pessoas no mundo sofrem com transtorno afetivo bipolar. Já a esquizofrenia afeta em torno de 23 milhões de pessoas em todo o planeta.

Experiência com a banalização dos transtornos mentais 

Vítima da banalização das doenças mentais, a estudante de Jornalismo Anna Clara Carvalho, de 21 anos, sofre com Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), doença que integra os transtornos ansiosos que atingem 9,3% da população brasileira, segundo o relatório Depressão e outros distúrbios mentais comuns: estimativas globais de saúdedivulgado pela OMS em 2017.

Para Anna Clara, a banalização de sua doença impede as pessoas de perceberem seu real estado de ansiedade (natural ou ansiedade fora do normal) e até mesmo quando está apenas séria. “Podemos estar ansiosos para uma viagem, para uma festa ou para um trabalho. E isso é normal das pessoas, do ser humano. O problema é quando isso começa a ser por qualquer coisa e em todo o tempo do seu dia”, diz Anna Clara.

E o problema se agrava com a incompreensão que a jovem percebe nas pessoas com quem se relaciona. “Elas sempre falam que estão ansiosas, mas quando nós falamos que estamos tendo uma crise de ansiedade ou estamos passando por um momento mais difícil nesse sentido, elas acham que vai passar ou que é só um nervoso por alguma coisa.”

Para Anna Clara, a banalização da doença mental atrapalha o entendimento do transtorno e também a busca por tratamento. “O maior problema da ansiedade é quando as pessoas começam a enxergá-la como um sentimento qualquer, que não precisa ser tratada; não tem valor e não precisa ser encarado com seriedade.”

Estigma e desinformação 

Segundo a professora Valéria, existe ainda outra face da estigmatização dos transtornos mentais, que é a glamourização e a romantização. É nas produções cinematográficas, séries de televisão e mídias sociais que esta face toma forma, através da romantização da questão. “O personagem que sofre de um transtorno mental é curado por outro que se apaixona por ele.” Para a professora, “esse tipo de imagem transmitida contribui para a desinformação” de doenças reais que devem ser tratadas com psicoterapia e, em alguns casos, com auxílio de medicação.

 Fonte: https://jornal.usp.br/atualidades/banalizacao-das-doencas-mentais-dificulta-diagnostico-e-tratamento/

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